Sinais de alarme
- João Núncio Crispim
- 11 de nov. de 2024
- 3 min de leitura
As crianças adoecem. Muitas vezes! Nos primeiros anos de vida, especialmente com a frequência dos infantários, as infeções são muitas, e das mais variadas - constipações, otites, faringites, laringites, gastrenterites... Estima-se uma média de 14 infeções por ano, o que - especialmente tendo em conta que os meses de verão são de relativa trégua - corresponde a mais de uma infeção por mês. Felizmente a grande maioria destas infeções são causadas por vírus, benignas e autolimitadas. Para a maioria não existe tratamento eficaz, restando o tratamento sintomático. É portanto muito importante conhecer os sinais de alarme a vigiar na evolução das doenças, que justificam uma observação médica.
A idade da criança é um dos primeiros fatores de decisão: quanto mais pequena a criança, maior o potencial de gravidade da doença. Significa isto que nos primeiros três meses de vida a presença de febre, por exemplo, é em si justificação para observação médica. A partir dos 6 meses somos bastante mais tolerantes com os sintomas, e de um modo geral aplicam-se os sinais de alarme referidos abaixo de forma relativamente transversal.
Acima de tudo, o sinal de alarme mais importante é o mau estado geral, a prostração. Atenção, é normal estarem mais abatidos e menos ativos nos períodos de doença, especialmente quando estão febris, mas se vão conseguindo brincar e arrebitam por períodos, especialmente nos intervalos dos picos febris, em princípio não estamos perante um sinal de alarme. Preocupa sim uma criança que reage muito pouco ou não reage à nossa interação, não tem forças para se movimentar. Uma criança muito doente fica pálida, com uma coloração acinzentada, movimenta-se muito pouco, fica alheada do que a rodeia. Estes sintomas preocupam e devem motivar o recurso a um Serviço de Urgência.
As características da febre - febre alta, difícil de ceder, que se prolonga para lá de 5 dias, ou que se acompanha de outros sinais de alarme aqui descritos - também podem ser sinais de alarme, e as que levantam mais preocupação são descritas no post "Febre".
A recusa total em beber líquidos, ou ocorrência de vómitos persistentes que impedem a adequada ingestão de líquidos podem causar desidratação (que surge mais fácil e rapidamente nas crianças mais pequenas). A incapacidade para ingerir líquidos é portanto um sinal de alarme a vigiar. Caso haja perda de líquidos excessiva, como quando há diarreia, a ingestão de líquidos deve ser suficiente para compensar essas perdas excessivas. Mas atenção: é perfeitamente normal que uma criança doente tenha pouco apetite e não seja capaz de comer. Isso não representa um sinal de alarme, desde que a ingestão de líquidos não esteja comprometida. Aprofundo o tema no post "Socorro, o meu filho não come!".
A dor também pode ser um sinal de alarme. No entanto na maioria das infeções respiratórias existe dor de garganta, nas gastrenterites há dor de barriga, em muitas infeções e especialmente na presença de febre há dor de cabeça... Ou seja, nem todas as dores são preocupantes e motivam alarme. A dor de cabeça é mais aprofundada no post "Dói-me a cabeça!". Em regra geral, uma dor de difícil controlo, que não cede à medicação analgésica (como Paracetamol ou Ibuprofeno), ou de grande intensidade, representa um sinal de alarme que justifica observação.
É muito frequente existir obstrução nasal, com a sensação de que não respiram com facilidade. É muito diferente não respirar bem pelo nariz e ter sinais de falta de ar, esses sim mais preocupantes e que devem motivar uma observação urgente. Uma respiração persistentemente rápida (atenção que é normal respirarem mais depressa quando estão febris) preocupa. As crianças manifestam a falta de ar também pelo uso excessivo do abdómen para respirar, fazem "covinhas" entre as costelas com a respiração, podem abrir e fechar as narinas para ajudar a respirar, e os bebés pequenos podem balançar a cabeça com os movimentos respiratórios. Estes sinais são designados de tiragem, e podem motivar observação médica. Nas crianças maiores, nomeadamente nos adolescentes, estes sinais são mais subtis e é de valorizar mais a sensação subjetiva de falta de ar.
Para evitar recursos desnecessários aos Serviços de Urgência é fundamental saber gerir os - muito frequentes - episódios de doença das crianças. Os Serviços de Urgência são locais para atendimento de doentes graves, e não há local melhor para "apanhar" doenças... Por isso é fundamental aprender a reconhecer os sinais de gravidade que justificam a procura de cuidados médicos!
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