top of page

Febre

  • Foto do escritor: João Núncio Crispim
    João Núncio Crispim
  • 1 de mai. de 2019
  • 4 min de leitura

A febre é um sintoma frequente na infância, e acompanha na grande maioria das vezes episódios infecciosos. Surge tanto nas infeções provocadas por vírus como nas doenças bacterianas. Sendo a inflamação o mecanismo causador da febre, algumas situações não infecciosas podem também causá-la, como a reacção pós-vacinal ou doenças reumatológicas, mas é porém falso que a erupção dentária seja realmente responsável pela elevação significativa da temperatura corporal.

A febre evolui naturalmente em picos, sendo os sintomas acompanhantes mais exuberantes na subida térmica, com desconforto, sensação de frio, tremores (por vezes calafrios), dores musculares e dor de cabeça. As mãos e pés ficam mais frios (e por vezes pálidos), enquanto a face e tronco ficam rosados. As crianças ficam habitualmente menos activas, por vezes muito prostradas, e algumas chegam a apresentar comportamentos estranhos ou alucinatórios. As convulsões induzidas pela febre são situações particulares.

Devemos então encarar a febre como nossa amiga? Não será assim: a febre é um sintoma que se reveste de um desconforto marcado. Sendo sem dúvida muito desagradável, a febre não é em si perigosa, podendo no entanto ser uma manifestação de uma doença de maior gravidade ou potencialmente tratável – e aí sim constituir uma razão para preocupação.

Quando me devo preocupar?

Sendo os episódios febris extremamente frequentes na infância, é fundamental que os pais conheçam que caraterísticas da febre ou sintomas acompanhantes devem desencadear a procura de ajuda médica.

A idade da criança é um dos primeiros fatores de decisão: quando mais pequena a criança mais apertado deve ser o critério para observação médica. A presença de febre numa criança com menos de 3 meses exige avaliação por um médico. A partir dos 3 meses são as caraterísticas da febre e sintomas acompanhantes que ditam esta necessidade.

Devemos estar mais alerta quando a temperatura é mais elevada (acima de 39ºC axilar), quando os picos de febre são mais próximos (a cada 2 ou 4 horas) ou quando baixa apenas parcialmente com os antipiréticos em dose adequada. A duração prolongada da febre, mais de 5 dias, por exemplo, também nos deve deixar mais atentos. Considero no entanto perigosa a ideia corrente de que 3 dias de febre obrigam a observação médica. Uma criança que no primeiro dia de febre está permanentemente prostrada deve ser logo avaliada, e outra que ao quinto dia de febre se apresenta evidentemente constipada e apresenta um óptimo estado geral quando a temperatura corporal baixa não necessita obrigatoriamente de ser observada.

Desta maneira, é a combinação de sintomas acompanhantes o principal fator a ter em conta na decisão de levar uma criança febril ao médico. O estado geral é determinante. A grande maioria das crianças fica abatida com as doenças febris, especialmente durante a subida térmica, mas com a descida da temperatura corporal ficam mais bem dispostas, brincam e interagem com os pais. Continuarem prostrados quando a temperatura baixa é um sinal de alerta. A diminuição do apetite e o aparecimento de manchas na pele, são queixas frequentes e na maioria dos casos benignas, mas são também sinais a ter em conta, especialmente a recusa em beber líquidos. Por outro lado, a total ausência de sintomas acompanhantes (corrimento nasal, tosse, diarreia, dor de ouvido ou garganta) numa criança entre os 3 meses e os 3 anos também merece uma atenção especial, especialmente quando o padrão de  febre é mais exuberante.

Quando e como tratar?

Na terapêutica da febre importa compreender que ao tratá-la não estamos a tratar a doença que a provoca. Por mais cuidadosos que sejamos no adequado controlo da febre, a doença que a causa segue o seu curso inalterado perante a administração de medicamentos antipiréticos. Por outro lado, ao tratar a febre não estamos também a evitar qualquer tipo de consequências nefastas da mesma. A razão pela qual tratamos a febre é, então, agir sobre o desconforto que ela provoca. Isto implica, naturalmente, que as medidas para tratar a febre não podem ser mais desconfortáveis que a própria febre, nem mais perigosas.

As medidas gerais para o controlo da febre são conhecidas. Devemos evitar o excesso de roupa e os ambientes quentes. A utilização de toalhas molhadas ou banhos ajudam a diminuir a temperatura corporal, mas é fundamental relembrar que o “inimigo” é o desconforto provocado pela febre: banhos de água fria são extremamente desconfortáveis, e portanto contraproducentes. O ideal será, se necessário e bem tolerado, dar um banho de água tépida.

Como medicamento de primeira escolha temos o paracetamol: nas doses adequadas é bem tolerado, eficaz, e o risco de efeitos indesejáveis é pequeno. Pode ser administrado até quatro vezes por dia, e está disponível em xarope e supositórios. O respeito pelas doses máximas é fundamental pelo perigo de reações adversas. O ibuprofeno pode ser utilizado sozinho ou em alternância com o paracetamol. Administra-se até três vezes por dia, e pode provocar desconforto abdominal por irritação do estômago, daí ser a segunda escolha em relação ao paracetamol. A alternância entre o paracetamol e o ibuprofeno permite que se possa administrar um antipirético a cada quatro horas (seis vezes por dia). Também aqui é importante compreender que o conforto é fundamental: quando uma criança dorme tranquilamente, apesar de febril, é mais desconfortável acorda-la para lhe administrar medicação que omiti-la.

Números

1ºC - é grosseiramente  a diferença entre a temperatura retal e a temperatura axilar, sendo a rectal mais elevada. A temperatura timpânica está entre ambas, cerca de 0,5ºC mais alta que a axilar e 0,5ºC mais baixa que a retal.

Posts recentes

Ver tudo
O inverno e as constipações

Agasalha-te!! Quando está para chegar o inverno, começam os avisos repetidos que aprendemos com os nossos pais e avós: “está frio, não...

 
 
 
A pele e a febre

A febre provoca alterações da coloração da pele, como mãos e pés pálidos, ruborização do tronco e face e por vezes um aspecto...

 
 
 

コメント


© 2019

bottom of page