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Será normal ressonar?

  • Foto do escritor: João Núncio Crispim
    João Núncio Crispim
  • 1 de mai. de 2019
  • 3 min de leitura

Poucas vezes os pais se queixam ao pediatra que os seus filhos ressonam. O ressonar é tido como um fenómeno normal, muitas vezes atribuído à hereditariedade: “ressona como o pai”. É frequente apenas surgir referência ao ressonar das crianças quando tal é especificamente perguntado, no contexto do seguimento de rotina ou no acompanhamento de doenças como a asma ou a rinite alérgica.

Porque ressona então uma criança? O ressonar é provocado pela vibração do ar a passar por uma zona estreita das vias respiratórias superiores. Vários fenómenos contribuem para o ressonar, como a obstrução do nariz, os desvios do septo nasal, o aumento dos adenóides e amígdalas ou a obesidade. Estes fenómenos podem ser transitórios, como a obstrução nasal, e o ressonar acontecer apenas quando as crianças estão constipadas. Esse ressonar, tendo uma causa passageira, em regra não preocupa.

Porque não ressonamos quando estamos acordados? Durante a noite os músculos da faringe (a “garganta”) e da língua relaxam, e o espaço de passagem do ar fica mais estreito. Quando estamos acordados esses músculos estão mais contraídos, mantendo o espaço mais permeável, fluindo o ar de forma mais “desimpedida” e portanto sem provocar ruído.

O estreitamento das vias aéreas superiores que causa o ressonar pode ser acentuado o suficiente para provocar ocasionalmente um bloqueio à passagem do ar. Nessa circunstância a criança pára de respirar, e superficializa o sono para conseguir resolver esse bloqueio e reiniciar a respiração normal. A este fenómeno chamamos apneia obstrutiva. Se acontecer de forma regular interfere com a respiração e com o padrão de sono normais. Como consequências surgem alterações do comportamento diurno, como hiperactividade/défice de atenção ou sonolência excessiva (menos frequente nas crianças pequenas), alterações da conformação do palato (o “céu da boca”), das fossas nasais e da dentição que podem elas próprias agravar a obstrução. As situações mais graves condicionam uma progressão de peso e estatura inadequadas, podendo também ter consequências cardíacas.

Por estes motivos o ressonar persistente não deve ser considerado normal, e deve ser relatado ao médico assistente, para avaliar a necessidade de terapêutica médica e/ou cirúrgica dirigida à causa.

Sindroma de apneia obstrutiva do sono

A sindroma de apneia obstrutiva do sono (SAOS) acontece quando a obstrução das vias aéreas superiores durante o período de sono condiciona uma limitação acentuada à passagem do ar e episódios de apneia (a respiração pára transitoriamente) e/ou hipopneia (a respiração é menos eficaz). Se é verdade que a hipertrofia (aumento de volume) das amígdalas e adenóides tem um papel importante na génese da SAOS, não é verdade que é o único causador. As alterações na conformação da face, como a mandíbula pequena e recuada, o palato alto e arqueado, os desvios do septo nasal, têm também um papel relevante. A rinite alérgica é também uma doença causadora de SAOS, e o seu adequado controlo é fundamental e por vezes suficiente – evitando cirurgias desnecessárias. A obesidade é um importante fator causador de SAOS, que tem vindo infelizmente a ganhar terreno pelo aumento significativo de obesidade infantil, e que, sendo de difícil controlo, compromete também o sucesso da terapêutica da SAOS. Também a exposição ao fumo do tabaco pode agravar esta doença.

Perante esta heterogeneidade de possíveis fatores causadores, a terapêutica da SAOS pode passar pelos medicamentos para a rinite alérgica, pela correção das alterações dentárias e mandibulares, pela remoção das amígdalas e/ou adenóides, pela terapêutica da obesidade, entre outras possíveis medidas.

Sabia que…

2 a 5% das crianças têm sindroma de apneia obstrutiva do sono?

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