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O meu filho não cresce - parte 1

  • Foto do escritor: João Núncio Crispim
    João Núncio Crispim
  • 1 de mai. de 2019
  • 3 min de leitura

O crescimento de uma criança envolve muitas áreas diferentes, e alguns conceitos confundem-se entre o que são as noções populares e a terminologia médica. A pediatria do desenvolvimento estuda a vertente psicomotora, ou seja as aprendizagens e aquisições ao nível da linguagem, motricidade, cognição, entre outras áreas. Uma noção mais lata de crescimento abrange também as modificações que surgem ao nível físico nas diferentes fases da vida das crianças e adolescentes. Quando falamos em crescimento, no entanto, quase sempre nos referimos ao crescimento em estatura. Falamos de comprimento até aos 2 anos de vida, quando as crianças são medidas deitadas, e de altura ou estatura daí em diante, quando são medidas de pé.

A situação perante a qual os pediatras se deparam com mais frequência quando os pais receiam que o seu filho não esteja a crescer de forma adequada é a chamada baixa estatura familiar. Ou seja, as crianças estão a crescer de forma harmoniosa mas abaixo da média, e de acordo com o que é o seu potencial genético. Ou seja, são mais baixas que a maioria porque também os seus pais o são. Apesar de a altura final de uma criança não ser de todo o fruto de um cálculo matemático entre a altura do pai e a altura da mãe, o cálculo da estatura alvo ajuda-nos a compreender o património genético herdado dos progenitores. Se estivermos a calcular a estatura alvo de uma menina devemos fazer a média aritmética da altura da mãe com a altura do pai após subtraídos 13 cm. Pelo contrário, ao fazer o cálculo para um rapaz somaremos 13 cm à altura da mãe e faremos com esse valor a média aritmética com a altura do pai. Ao valor obtido somamos e subtraímos 8 cm para obter uma “baliza” de 16 cm onde se deverá com maior probabilidade situar a altura daquela criança na idade adulta. Tudo isto se torna mais falível se os pais têm estaturas muito díspares.

É importante sublinhar que a estatura dos pais a utilizar no cálculo deve ser medida no próprio consultório do pediatra, ao invés de utilizar a altura registada no Cartão do Cidadão, dado que esse registo é muito pouco preciso.

À semelhança da baixa estatura familiar, outra causa considerada normal para que o crescimento das crianças esteja abaixo do esperado é o atraso constitucional da maturação. Uma criança com um atraso constitucional da maturação apresenta um amadurecimento físico mais tardio. O crescimento é habitualmente mais lento que nas outras crianças a partir dos 6 meses e a velocidade de crescimento normaliza entre os 2-3 anos. Estas crianças têm habitualmente um surto de crescimento mais tardio que a maioria, acompanhando um também mais tardio desenvolvimento das mudanças corporais características da puberdade. Isso faz com que nessa idade pareçam estar ainda mais aquém da altura mediana. Esse atraso, no entanto, confere-lhes um período mais longo de crescimento, e o surto de crescimento (o famoso “pulo” da adolescência) costuma ser mais prolongado. Esse “tempo extra” de crescimento compensa o desfasamento previamente notado em relação à maioria das crianças da mesma idade, e a altura após a conclusão do crescimento vai habitualmente coincidir com a altura esperada tendo em conta o perfil genético herdado dos pais.

Um exame fundamental para avaliar uma criança com suspeita de atraso constitucional da maturação é a radiografia da mão e punho esquerdos para determinação da idade óssea. Os ossos do punho, carpo e dedos são maioritariamente constituidos por cartilagem no recém-nascido (e portanto “transparentes” na radiografia), e amadurecem ossificando progressivamente ao longo do crescimento. A idade óssea resulta da comparação da maturação desses ossos com um determinado padrão. Dado que no atraso constitucional da maturação toda a maturação está atrasada, a idade óssea vai estar também atrasada. Frequentemente podemos encontrar crianças com 9 anos de idade com uma idade óssea de 7 anos, por exemplo, o que lhes confere um potencial maior de crescimento mais tardio.

O que é a velocidade de crescimento?

A velocidade de crescimento é precisamente o que parece: a velocidade a que se cresce! Como o crescimento é lento, não utilizamos as unidades mais frequentes de velocidade, como os quilómetros por hora ou metros por segundo. Calculamos em centímetros por ano. Se uma criança cresce 2 centímetros em seis meses terá nesse período uma velocidade de crescimento de 4 centímetros por ano.

A velocidade de crescimento é máxima logo após o nascimento, diminui progressivamente até antes da puberdade, altura em que volta a aumentar durante o surto de crescimento. Em seguida reduz progressivamente até cessar o crescimento. Também a velocidade de crescimento tem curvas de percentis, sendo possível avaliar através das mesmas a adequação da velocidade de crescimento em cada idade.

Sabia que…

... é frequente um dos pais de crianças com atraso constitucional da maturação ter apresentado na infância um padrão semelhante?

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