O ferro faz falta?
- João Núncio Crispim
- 1 de mai. de 2019
- 2 min de leitura
O ferro é um componente central da hemoglobina, a proteína que transporta o oxigénio e o dióxido de carbono no interior dos glóbulos vermelhos, e desempenha várias outras funções no organismo. A sua única fonte é a alimentação, dependendo os seus níveis no organismo da ingestão de alimentos ricos em ferro e da sua correcta absorção pelo intestino, sendo armazenado no fígado.
A falta de ferro, designada ferropénia, pode surgir por défice alimentar, por dificuldade na absorção no intestino ou por perda excessiva. A consequência mais estudada da falta de ferro é a anemia, não sendo possível fabricar hemoglobina em quantidade suficiente. No entanto, défices mais ligeiros, mesmo não provocando anemia, têm consequências mais subtis. Nas crianças a ferropénia compromete o crescimento e a capacidade de aprendizagem.
As principais fontes de ferro são as carnes e peixes. Algumas leguminosas e legumes também possuem ferro, contudo esse ferro é mais difícil de absorver no intestino. Alguns alimentos, como o leite, diminuem a absorção do ferro alimentar, enquanto outros como os citrinos (ricos em vitamina C) aumentam essa absorção. A alimentação pobre em ferro é a principal causa de défice de ferro nas crianças. A maioria das ferropénias surgem em crianças pequenas, a partir dos 9-12 meses, que comem pouca carne e legumes, mantendo uma alimentação muito centrada no leite e derivados. Isto é na maioria das vezes consequência de uma dificuldade dos pais em lidar com a recusa da criança em comer a refeição, acabando por oferecer leite, iogurte ou bolachas para que “pelo menos coma qualquer coisa”. A criança, preferindo essas alternativas, acentua cada vez mais o comportamento de recusa. É fundamental, nestes casos, não encontrar alternativa à refeição programada.
Os problemas intestinais com diminuição da absorção de ferro são menos frequentes, sendo exemplos a doença celíaca e as doenças inflamatórias intestinais como a Doença de Crohn. As situações que levam à perda excessiva de ferro, mais frequentes nas crianças mais velhas, são aquelas em que há perda crónica de sangue, como as perdas menstruais excessivas nas meninas adolescentes.
O ferro é assim um nutriente essencial, cujo equilíbrio é frequentemente perturbado no contexto de carências nutricionais ou de um largo leque de doenças.
O ferro, a gravidez e o aleitamento
Os depósitos de ferro no fígado de um recém-nascido dependem da alimentação materna durante a gravidez, razão pela qual é habitualmente recomendada a suplementação de ferro na segunda metade da mesma. O aleitamento não fornece aos bebés todo o ferro necessário, pelo que esses depósitos de ferro são consumidos nos primeiros meses de vida. Apesar de ser por todos os motivos preferível o leite materno ao leite adaptado, ele é no entanto mais pobre em ferro. A diversificação alimentar, a partir dos 4-6 meses, deve por isso incluir precocemente uma fonte de ferro de fácil absorção. A suplementação de ferro ao bebé está recomendada nos prematuros, e alguns especialistas recomendam a suplementação também noutros grupos de maior risco de ferropénia.
Sabia que…
... alguns estudos apontam para uma prevalência de ferropénia até 12% aos 12 meses de idade?
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